Palestra no NUPEQUIS-SC

14/04/2012 14:32

A pesquisadora Maria Elisabeth Goidanich apresentou, no último dia 13 de abril, os resultados de sua pesquisa sobre as compras e o cotidiano no Núcleo de Pesquisa sobre Quotidiano, Imaginário e Saúde da UFSC, reiterando a importância da interdisciplinaridade quando se trata dos estudos de consumo.

 

VI Encontro Nacional de Estudos do Consumo e o II Encontro Luso-Brasileiro de Estudos de Consumo

10/04/2012 09:30

 

 

EMENTA DO EVENTO

Nas duas últimas décadas, o tema da sustentabilidade socioambiental tornou-se central nas sociedades contemporâneas. O impacto da emissão de gases de efeito estufa, o consumo de água e energia não renovável, a perda de biodiversidade, a necessidade de redução e reciclagem de resíduos, entre tantos outros temas, passaram a ser objeto de acordos internacionais, de políticas públicas, de iniciativas empresariais, de reportagens da grande mídia, de ações de movimentos sociais e de acaloradas discussões no meio acadêmico. Hoje já há certo consenso de que mesmo com mudanças dramáticas nas políticas públicas, nas tecnologias produtivas e nas fontes energéticas, grande parte dos impactos ambientais permanecerá, uma vez que são produzidos também na esfera doméstica, ou seja, na forma como os recursos naturais e a energia do planeta são usados por uma classe consumidora global de 1,7 bilhão de pessoas espalhadas por todos os continentes. Isso significa que a sustentabilidade precisa ser pensada, mais do que nunca, a partir do consumidor final. Vida sustentável (sustainable living) é o conceito que sintetiza esta relação entre práticas de consumo cotidianas e sustentabilidade. Tal conceito inclusive nos obriga a recolocar em questão as próprias relações entre consumo e produção. Entretanto, a tarefa de redefinir e mudar práticas sociais é mais complexa do que campanhas e políticas públicas podem nos levar a crer. Práticas constituem-se em discursos e fazeres que se desenvolvem, se associam e se desmembram em novas práticas, cada uma implicando em novas formas de consumo.

 

O VI Encontro Nacional de Estudos do Consumo e o II Encontro Luso-Brasileiro de Estudos de Consumo têm como objetivo central discutir, tanto teórica quanto metodologicamente, o conceito de Vida Sustentável, além de analisar, de um ponto de vista sociológico amplo e distanciado, as práticas sociais e estilos de vida que constituem o viver na sociedade contemporânea. Trabalhos empíricos sobre práticas domésticas, consumo de água e energia, mobilidade urbana, transporte e logística, uso e adoção de tecnologias ecológicas na esfera doméstica, sobre o morar e sobre novas formas de articular a produção e o consumo, entre outros temas, serão de grande interesse, bem como a própria concepção simbólica e prática do que é “viver de forma sustentável” na sociedade contemporânea.

 

CHAMADA PARA TRABALHOS

Convidamos pesquisadores e estudantes de pós-graduação (mestrado e doutorado) a enviar propostas de trabalhos baseadas em reflexões teóricas e/ou resultados de pesquisas empíricas, em consonância com o tema de um dos Grupos de Trabalho relacionados abaixo. Cada autor e co-autor podem enviar quantas propostas desejarem.

 

As propostas devem ser submetidas primeiramente sob a forma de resumos expandidos. Os coordenadores de cada GT os analisarão e selecionarão aqueles trabalhos que serão apresentados no evento. Após a seleção dos resumos expandidos, os autores devem encaminhar o paper completo, de acordo com as datas estabelecidas abaixo.

CALENDÁRIO

Prazo para o envio de resumos expandidos: 30 de maio de 2012

Divulgação do resultado da seleção de resumos expandidos: 30 de junho de 2012

Prazo para o envio dos trabalhos completos: 15 de agosto de 2012

 

FORMATAÇÃO DOS RESUMOS

Os autores devem enviar arquivo eletrônico com o resumo expandido no formato Microsoft Word, com no mínimo 3.000 caracteres e no máximo 4.000 caracteres (com espaços).

 

Informações sobre o envio de resumos e papers estarão disponíveis no site www.estudosdoconsumo.com.br.

INSCRIÇÕES

As inscrições devem ser feitas através do site www.estudosdoconsumo.com.br e terão preços diferenciados para pagamento antecipado:

COMISSÃO ORGANIZADORA

 

Fátima Portilho (CPDA/UFRRJ)

John Wilkinson (CPDA/UFRRJ)

Laura Graziela (PPGA/NEMO/UFF)

Letícia Veloso (PPGS e PPGSD/UFF)

Lívia Barbosa (CAEPM/ESPM-SP) – Presidente

Marta Rosales (CRIA/FCSH/UNL – Portugal)

Veranise Dubeux (CAEPM/ESPM-RJ e PUC-RJ)

 

COMISSÃO DE APOIO

 

Camila Batista (Mestranda – CPDA/UFRRJ)

Daniel Coelho (Doutorando – CPDA/UFRRJ)

Daniel Wanderley (Graduando – ESPM)

Flávia Galindo (Doutoranda – CPDA/UFRRJ)

Layla Miranda (Graduanda – UFRRJ)

Michele de Lavra Pinto (Doutoranda CPDOC/FGV; Prof. ESPM-RJ)

Patrícia Gonçalves (Doutoranda – CPDA/UFRRJ)

Taís Queiroz (Mestranda – PPGA/UFF)

 

COMITÊ CIENTÍFICO

 

Eduardo Ayrosa (FGV-RJ)

Eliane Tânia Freitas (UFRN)

Fabián Echegaray (Market Analysis)

Fátima Portilho (CPDA/UFRRJ)

Janine Collaço (UFG)

John Wilkinson (CPDA/UFRRJ)

José Carlos Durand (Grupo FOCUS/ Unicamp)

Laura Graziela Gomes (PPGA/NEMO/UFF)

Lênin Pires (FD/InEAC/UFF)

Letícia Veloso (PPGS e PPGSD/UFF)

Lívia Barbosa (CAEPM/ESPM-SP)

Marta Rosales (CRIA/FCSH/UNL – Portugal)

Mylene Mizrahi (PPGSA/IFCS/UFRJ)

Renata Menasche (UFPel e PGDR/UFRGS)

Rosana Pinheiro Machado (ESPM-RS)

Sandra Rubia da Silva (UFSM)

 

 

 

Mamãe vai ao supermercado: uma abordagem etnográfica das compras para o cotidiano

09/04/2012 14:59

No último dia 16 de março, Maria Elisabeth Goidanich defendeu sua tese de doutorado, orientada por Carmen Rial e coorientada por Julia Guivant. Foram membros da banca as professoras Lívia Barbosa, Cláudia Fonseca, Sandra Rubia da Silva, Joana Maria Pedro e Rossana Proença.

Veja o resumo do trabalho que estará disponível para consulta, no site da BU UFSC, em breve:

A tese parte do estudo das práticas de compras em supermercados realizadas por mulheres com filhos de camadas médias, tendo como objetivo principal descrever e analisar as competências que as mesmas entendem como importantes para que possam ser consideradas “especialistas em consumo”. Para entender estas práticas, discute o lugar ocupado pelas compras em supermercado na manutenção e construção das rotinas da vida cotidiana. O trabalho de campo teve lugar na cidade de Florianópolis (Brasil), de 2009 a 2011. A partir das observações das mulheres em ação no supermercado, considerado como palco de interações sociais diversas (diretas e indiretas), esta tese analisa as formas específicas de organização destas compras, as performances das compradoras durante as visitas às lojas (e o porquê de suas escolhas), assim como as relações que ali se estabelecem entre as compradoras, as lojas e os outros (sejam compradores, representantes do supermercados e atores sociais não diretamente presentes, como membros da família). As compras de abastecimento como parte do trabalho doméstico são, em geral, invisíveis e, como tal, raramente se tornam objetos de estudo. Neste sentido, esta tese busca inspiração em pesquisas de caráter etnográfico sobre as práticas de compras e estudos sobre o consumo, para poder identificar as especificidades das competências que atravessam as decisões que parecem banais e cotidianas. Entretanto, nos diversos capítulos mostro como desde a organização do tempo, a elaboração das listas, a seleção dos produtos, o equilíbrio dos desejos dos membros da família e a necessidades do orçamento doméstico, as tentações e os prazeres, os sentidos que permitem viajar no tempo e no espaço, e o controle das relações de gênero são elementos que podem estar ricamente imbricados numa ida ao supermercado.

Palavras-chave: Consumo, Competências, Práticas de Compras, Rotinas, Gênero, Cidadania

Special Issue: Material Culture and Mass Consumptionin the Global South

09/04/2012 14:48

É com orgulho que registramos o trabalho da equipe do Em matéria de consumo que resultou na edição especial da International Review of Social Research, com artigos de pesquisadores brasileiros e não-brasileiros, sob a coordenação editorial de Carmen Rial, Sandra Rúbia da Silva e Angela Maria de Souza. Veja o conteúdo:

 

Consumption  and Material Culture Studies in the Global South –  Carmen RIAL, Sandra Rubia SILVA, Angela Maria De SOUZA Article | Full Text (PDF) |

Should  You Accept a Friends Request from  Your Mother? And Other Filipino Dilemmas (pages 9-28) Daniel MILLER, Mirca MADIANOU                       Abstract | Full Text (PDF) |

Music and Youth in Brazilian Contemporary Society (pages 29-46) Livia BARBOSA, Leticia VELOSO, Veranise DUBEUX                       Abstract | Full Text (PDF) |

‘The Idea Is For Us to Work Here In The Workshop!’:  The Re-functionalization Of Artisans’  Economic and Cultural Circuits  In Florianopolis, South   Brazil (pages 47-64) Ronaldo de OLIVEIRA CORRÊA, Carmen Silvia de MORAES, Gilson Leandro QUELUZ                       Abstract | Full Text (PDF) |

Circulating Food and Relationships:  the Movement of Food (and Other Things) Between Brazilians in Boston and Brazil (pages 65-76) Viviane KRAIESKI de ASSUNÇÃO                       Abstract | Full Text (PDF) |

Globalizing Locations: Production-Consumption Relations in the Hip-hop Movement in Brazil and Portugal (pages 77-92) Angela Maria de SOUZA                      Abstract | Full Text (PDF) |

Juvenile Sociability, Cultural Classifications and ‘Tastes’: A Study on the Universe of Games and Social Networks in Lower Class LAN Houses (pages 93-106) Carla BARROS                       Abstract | Full Text (PDF) |

Brand  Clans: Consumption and Rituals Among Low-income Young People in the City of Porto Alegre (pages 107-126) Rosana PINHEIRO-MACHADO Abstract | Full Text (PDF) |

The Configuration of ‘Young’ Spaces in Brasil in the late 1960s: Pop Domesticity Through the Perspective of the Magazine Casa & Jardim (pages 127-142) Marinês Ribeiro dos SANTOS, Joana Maria PEDRO, Carmen Sílvia RIAL  Abstract | Full Text (PDF) |

A Place Called  Supermarket (pages 143-156) Maria Elisabeth GOIDANICH, Carmen RIAL Abstract | Full Text (PDF) | References  

On  Emotion and Memories: the Consumption of Mobile Phones as ‘Affective  Technology’ (pages 157-172)                       Sandra Rubia SILVA Abstract | Full Text (PDF) |

Amazonian  Exchanges: Txema’s Lessons with Outboard Engines, Mosquito Nets and Images (pages 173-190) Barbara Maissonave ARISI Abstract | Full Text (PDF) |

Artigo discute consumo de alimentos e formação de mercados brasileiros em Boston

22/08/2011 22:03

A última edição da Revista Ponto Urbe, publicação eletrônica do Núcleo de Antropologia Urbana da USP, traz um artigo sobre a formação de mercados étnicos na Grande Boston. A partir do conceito de mobilidade, o artigo da pesquisadora do NAVI Viviane Kraieski de Assunção mostra como os primeiros brasileiros que migraram para a região, a partir das décadas de 60 e 70, deslocavam-se pelas cidades em busca de “comida brasileira”, deparando-se com as dificuldades e a diversidade étnica.

Este e outros artigos sobre antropologia urbana podem ser encontrados no site da revista.

Trabalhos do grupo serão apresentados na RAM

04/07/2011 18:37

As pesquisadora Viviane Kraieski Assunção e Maria Elisabeth Goidanich apresentarão seus trabalho no GT04 – Alimentação, Cultura e Sociedade: encontros, diferenças e desigualdades no Mercosul, durante a Reunião de Antropologia do Mercosul que acontece em Curitiba, de 10 a 13 de julho.

Seguem os resumos dos dois trabalhos:

Comida brasileira em Boston: quando a comida manifesta laços sociais .
Por Viviane Kraieski de Assunção

Este trabalho origina-se de uma etnografia das práticas e saberes alimentares de imigrantes brasileiros em Boston (EUA). O trabalho de campo mostrou que, ao se referirem a sua própria alimentação, os imigrantes afirmavam não ter havido mudanças ao migrarem para os Estados Unidos, e que se alimentavam cotidianamente de “comida brasileira”. Esta continuidade das práticas alimentares é possibilitada pelo aumento da oferta de comida brasileira, que acompanhou o fluxo de imigrantes brasileiros para a região. Deste modo, uma ampla variedade de produtos brasileiros pode ser encontrada em mercados étnicos e supermercados da Grande Boston. Neste trabalho, argumento que as comidas que os imigrantes preparam e consomem diariamente, mais do que apresentarem-se como afirmações de uma identidade nacional, manifestam relações sociais com a família e o ambiente doméstico que deixaram no Brasil.

Relações Entre os Sentidos e as Escolhas Alimentares no Supermercado: uma abordagem etnográfica.
Por Maria Elisabeth Goidanich – Autor e Carmen Rial – Co-Autor

Através do relato etnográfico, este trabalho busca identificar atos sensoriais durante as compras em supermercados de mulheres de camadas médias da população de Florianópolis. De modo geral, procura compreender as relações entre os sentidos, as preferências e os comportamentos manifestos durante as compras. Assim, discorre sobre a participação do tato, do olfato e do paladar, tanto quanto da visão e da audição sobre escolhas, critérios de qualidade e identificação com os produtos expostos. Parte do entendimento de que os sentidos, além de meios de apreensão de fenômenos físicos, são, também, avenidas para a transmissão e apreensão de valores sociais e culturais. No supermercado, em se tratando de escolhas para a alimentação da família, os sentidos em geral são aguçados, mesmo que através da memória, e, muitas vezes em conjunto, provocam curiosidade, desejo, compra ou rejeição.

Lançamento: Tales from Facebook, Daniel Miller

06/05/2011 07:50

O livro conta histórias fascinantes sobre os usos que a população de Trinidad faz do Facebook. Essas histórias revelam como o Facebook pode trazer de volta à vida pessoas que estão isoladas em casa, seja por doença ou pela idade avançada, também pode ser útil para cultivar relacionamentos e, ao mesmo tempo, devastador da privacidade e um meio de criação de escândalos.

Em Tales from Facebook, Miller examina em detalhes como o Facebook transfomra a vida de indivíduos, mas também apresenta uma teoria geral do Facebook como cultura e considera as possíveis consequências das redes sociais no futuro.

Diálogos entre periferias: a globalização do Movimento hip hop

08/04/2011 17:19

Diálogos entre periferias: a globalização do Movimento hip hop1

Dra. Angela Maria de Souza angela.souza@unila.edu.br

Docente na UNILA –Universidade da Integração Latino-Americana

Pesquisadora do NAVI – Núcleo de Antropologia Audiovisual e Estudos da Imagem / GAUM – Grupo de Antropologia Urbana e Marítima

O Movimento hip hop ganha forma num contexto de globalização em espaços urbanos de médias e grandes cidades. Mesmo tendo se expandido a partir dos Estados Unidos, este Movimento nasce de um encontro de culturas, de práticas estético-musicais de populações negras e latinas em espaços de periferia. Mais do que uma arte ou uma manifestação da juventude, o Movimento hip hop torna-se espaço de debate político-social sobre vivências e experiência de jovens negros, homens e mulheres, imigrantes dos mais diversos países, questionando os problemas sociais que os cercam. Com uma proposta de discussão sobre as condições de desigualdades da população negra e imigrante nos Estados Unidos, o rap passa, no mundo, a ser a música associada ao estilo de vida de populações marginalizadas, como os emigrantes mexicanos e os asiáticos (EUA) os árabes e berberes (França), cabo-verdianos e angolanos (Portugal), jovens de origem turca (Alemanha), moradores dos banlieues de Paris, Marselha e Lyon (França), moradores das periferias no Brasil, etc. Mesmo em contextos sócio-culturais tão diferentes o Movimento hip hop se faz presente como uma importante forma de manifestação, direcionando redes e “fluxos” (Hannerz, 1994)2 que fazem repensar práticas sociais dentro de um contexto de “compressão do tempo-espaço” (Harvey, 1994)3.

São experiências e vivências sócio-político-culturais que ganham forma estética no debate de problemas comuns, como os encontrados nas periferias da Grande Lisboa (Portugal), como Cova da Moura (Amadora) e Arrentela (Seixal) e Grande Florianópolis (Estado de Santa Catarina – Sul do Brasil), nos bairros Monte Cristo, Chico Mendes e Jardim Atlântico (São José)4. Nestes espaços urbanos, estes jovens repensam suas práticas sociais e elaboram outras manifestações. E aqui os caracteriza as redes que vão se formando entre as periferias nacionais e que alargam-se transformando-se em fluxos transnacionais. São parcerias musicais que se formam entre países e que transpõem barreiras linguísticas no estabelecimento de redes de comunicação.

As músicas circulam, de maneira muito intensa, por canais pouco convencionais até bem pouco tempo atrás. São Blogs, My Space, Orkut, rádios virtuais, que ampliam consideravelmente o alcance da produção musical do rap, possibilitando inclusive novas parcerias musicais. Como ocorreu com o Grupo Reverso, de Florianópolis, que tem uma página no My Space. Desta forma, um grupo de rap da Romênia, acessou uma das músicas do Reverso, produziu uma outra versão dela e reenviou-a ao grupo. O diálogo transcorreu de forma bastante peculiar. Como os integrantes do Reverso não falavam inglês, nem o grupo da Romênia falava português, o jeito foi pedir ajuda a um colega de trabalho que entendia “alguma coisa de inglês”. E, com o auxílio de um dicionário, a comunicação se estabeleceu. Um dos critérios cobrados pelo Reverso para aceitar esta parceria foi a não inclusão de palavrões ou ofensas a Deus por parte do grupo romeno, já que faz rap gospel. O rap gospel é um estilo que é praticado principalmente por jovens evangélicos e neo-evangélicos, que apropriam-se da música também com o objetivo de evangelização. Para eles, o rap consegue influenciar jovens, principalmente de periferias, levando a palavra de Deus a espaços em que um pastor teria pouca aceitação. Por essa nova proposta estético-religiosa o rap passa a ter outras referências que tornam-se condição para a prática musical. Aceita as condições, a parceria musico-virtual se estabeleceu e eu tive a oportunidade de ouvi-la num dos encontros da BRC – Banca de Rap Cristão em Florianópolis. Esta produção musical fala, “aventura”-se (Simmel, 2004)5 pela cidade para nela poder circular, mas não limita-se a ela, ao contrário, a transpõe, como nos mostra o grupo Reverso e tantos outros grupos de rap.

O avanço tecnológico, além de possibilitar canais de circulação desta produção musical, proporciona rapidez, barateamento e facilidade na gravação musical. Com um computador e um programa apropriado o rapper pode gravar suas músicas em sua casa. Além disso, ampliam-se as possibilidades de criação ou implementação de canais musicais, mesmo que não implique em retorno financeiro. Contudo, o acesso a tecnologia é algo que ainda cria distanciamentos significativos, mesmo dentro do Movimento hip hop, já que muitos rappers, no Brasil, não possuem computadores em suas casas. Em muitos destes casos, as lan houses (cybercafe) possuem o papel de estabelecer esta comunicação virtual.

Nestes espaços urbanos globalizados o Movimento hip hop, através do rap, se coloca como construção narrativa de suas experiências e trajetórias de vida. Se em Lisboa encontrei o rap crioulo, realizado predominante por imigrantes cabo-verdianos e angolanos em bairros da periferia, em Florianópolis, o rap de quebrada, é uma importante forma de expressão da população, em grande parte negra, que reside em bairros de periferias e favelas e que através de sua música debatem os problemas que vivenciam, questionando a relação que a cidade estabelece com estes bairros. Nestes dois estilos rap, cada qual com suas especificidades, é possível perceber a elaboração de uma visibilidade estética como forma expressão, que emerge com uma “subjetivação do mundo” (Ferry, 1994)6 e que vai delineando-se na tensão entre o individual e o coletivo, o global e o local. E, a partir dos estilos estabelecem relações de consumo, principalmente a partir das musicas, que estes rappers movimentam e que vão apontar para as especificidades e localidades, como as relações que constroem com seus bairros, com a cidade, mas sem deixar de lado contextos mais amplos relacionados a movimentos de globalização e transnacionalização. A partir de uma relação produção-consumo estes jovens vão elaborar e implementar redes para a circulação destas produções musicais e com isso criam uma espécie de globalização paralela, entre periferias de cidades e de nações. No Movimento hip hop a música circula por culturas e se refaz em cada contexto cultural. Esta música constitui-se em movimento e também implica em “responsabilidades”, que pode aqui ser expressa a partir do compromisso que se auto-atribuem com o relato de uma realidade que vivenciam localmente e que torna-se denúncia de problemas sociais. Na denúncia de discriminação, da desigualdade, da violência, da exploração, manifestam-se e posicionam-se dando visibilidade a estas experiências através do Movimento hip hop. Protestam e chamam a atenção para estas vivências e suas implicações e, nesta atitude, redefinem e reorganizam sua postura social. Em função deste debate, “fluxos” (Hannerz, 1994) de comunicação vão se estabelecer, aspectos comuns à vivência nestas cidades vão surgir e pareceres sobre estas relações vão ser descritas em suas músicas. O Movimento hip hop amplia seu alcance a partir de um contexto de globalização, compressão do tempo-espaço e de um avanço tecnológico cada vez mais veloz que propicia a circulação de objetos, de músicas, de ideias que interligam estes espaços e que redefinem a própria globalização.

A grande parte destes jovens, seja no Brasil ou e Portugal, nos revela importantes deslocamentos. Se no Brasil estes deslocamentos podem ser pensados a partir da condição de “diáspora” (Hall, 2006)7 gerado pelo processo de escravidão de mais de 300 anos, em Portugal estes deslocamentos estão nos processos de imigração de uma parcela significativa de população negra, no caso do Movimento hip hop, principalmente de ex-colonias portuguesas como Cabo-Verde e Angola. Nas duas situações estes deslocamentos são determinantes da prática musical, seja apontando as consequências da escravidão ou ressaltando a importância e ao mesmo tempo desvalorização do imigrante no continente europeu. E nestes deslocamentos espaço-temporais o Movimento hip hop se recria e se desloca por espaços que ressignificam fronteiras e nacionalidades.

E com isso, amplia-se e escoa por espaços transnacionais e constitui-se no Movimento que lhe dá nome e que está na mão do DJ, nos grafites nas paredes dos bairros de Florianópolis e Lisboa, nas roupas e corpos dos rappers.

Desta maneira estabelecem novas relações de consumo e sociabilidade que redefinem o próprio Movimento hip hop estabelecendo redes que circulam e fazem circular produtos, ideias, informações entre periferias e que a partir dela expandem-se por espaços mais amplos, estabelecendo novas dimensões a suas práticas estético-musicais e estilo de vida.

1Pesquisa realizada com bolsa da CAPES e CNPq para a tese de doutorado (Souza, 2009).

Este artigo foi publicado em língua inglesa e com algumas modificações no www.materialworldblog.com em setembro de 2010.

2 HANNERZ, U. Cosmopolitas e locais na cultura global. In: FEATHERSTONE, M. (org.) Cultura Global: nacionalismo, globalização e modernidade. Rio de Janeiro: Vozes, 2004.

3 HARVEY, D. A condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1994.

4 SOUZA, A M. “A caminhada é longa… e o chão tá liso”: O Movimento hip hop em Florianópolis e Lisboa. Florianópolis: Tese de Doutorado em Antropologia, UFSC, 2009.

5 SIMMEL, G. A aventura. In: _____ Fidelidade e gratidão e outros textos. Lisboa: Relógio D’água, 2004.

6 FERRY, L. Homo Aestheticus: a invenção do gosto na era democrática. São Paulo: Ensaio, 1994.

7 Hall, S. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2006.

ABA disponibiliza CD virtual com trabalhos apresentados na última RBA

15/03/2011 22:15

Deste o início deste mês, estão disponíveis no site da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) os anais da 27ª Reunião Brasileira de Antropologia, ocorrida em agosto do ano passado, em Belém (PA). Nos anais, podem ser encontrados resumos e artigos completos de trabalhos apresentados em 57 Grupos de Trabalho. Dentre eles, destacamos três: GT 16 – Cultura Material: retomadas e renovações; GT 28 – Patrimônio, memória e saberes e práticas da alimentação; GT 53 – Comida e simbolismo: práticas alimentares, conhecimentos e saberes tradicionais no Brasil plural.

Vale a pena conferir também os trabalhos apresentados nos outros GTs, Simpósios e Fóruns Especiais e Mesas Redondas.

Grupo de Trabalho sobre Alimentação e Cultura recebe propostas de apresentação até segunda-feira

10/03/2011 14:11

Termina no dia 14 de março, segunda-feira, o prazo para o envio de resumos para apresentações nos Grupos de Trabalho do XI CONLAB (Congresso Luso Afro Brasileiro de Ciências Sociais). O evento, que acontecerá de 7 a 10 de agosto na Universidade Federal da Bahia, Campus de Ondina, terá 91 Grupos de Trabalho contemplando uma grande variedade de propostas. Entre eles, destacamos o GT 36 Alimentação e Cultura, coordenado por Ligia Amparo da Silva Santos, professora da Universidade Federal da Bahia. O GT pretende discutir a comida e o ato de comer a partir de suas dimensões socioculturais e articulados com temas diversos, como modernidade e tradição, religião, gênero, etnia, sociabilidade, natureza/cultura, corpo e a dimensão do saudável, a comida ritual, identidade e patrimônio cultural.

Informações sobre este e outros GTs, além das regras para inscrição e submissão de resumos, podem ser obtidas no site do evento.

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